terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Postado por saga dos martins 37 comentários
A família
Olhando-se no espelho, Karina achou-se completamente transformada, estava prestes a se casar e não conseguia definir o que sentia. Era um misto de sensações. Deu um suspiro e para distrair-se olhou através do espelho para todo o quarto e ficou observando todas as pessoas que estavam ali. A impressão que sentia era que as conhecia há anos, mas isso era devido a sua mãe que havia falado de todas. Sua mãe que no momento estava abaixada ajeitando pela milésima vez a cauda do seu vestido, enquanto tentava falar, de maneira quase inaudível, devido à quantidade de alfinetes em sua boca. Karina esboçou um sorriso e pensou que serventia teria aqueles alfinetes. Até aquele momento nenhum havia sido usado, mas continuavam ali, pendurados. Ficou olhando para a mãe e seu ar de riso deu lugar para uma expressão carregada de afeto. Amava, admirava e sentia orgulho de sua mãe. Sentada em uma poltrona gasta, estava sua tia Tereza, com o cabelo de uma cor indefinida, isso devido ao fato que ela deveria ter misturado vários restos de tinta de suas clientes e colocado no cabelo. Karina falou, enquanto sua mãe mexia em seu arranjo de cabelo, já imaginando a resposta:
_ Tia, que cor é essa no seu cabelo? Nunca vi uma cor assim, comprou?
_ Capaz, guria!_ respondeu Tereza, parando de fazer seu tricô_ Misturei uns restos de tinta.
_ Sinceramente, Tereza você não muda nunca_ falou Adília_ misturar tinta...
_ Não sei o que quer dizer com isso, Dília, pensa que sou igual a tu, que gasta sem parar?_ interrompeu Tereza_ Misturei sim, por acaso ia jogar fora? Capaz! Tu não tens idéia de preço de tinta?
_ Tenho, mas prefiro a cor natural, nossa mãe nunca pintou o cabelo_ retrucou Adília, ficando vermelha_ Isso é horrível, gosto de me manter como Deus nos fez! E gasto mesmo, se está falando das coisas que comprei, perde teu tempo, são coisas necessárias.
_ Imagina que não!_ disse Tereza, guardando o tricô em sua sacolinha de mercado_ Aonde forno elétrico é necessário? Tu tá banza? Vai é gastar energia, isso sim!
_ Tereza, Dília _ falou Exalta batendo as mãozinhas no joelho_ Parem com isso! Estão assustando Karina com essa conversa _ deu um sorriso para Karina_ Não ligue querida, elas são assim mesma.
_ Tudo bem, titia, não tem problema_ respondeu Karina dando um sorriso.
_ Ma repara, Bento, que lindo esse jeitico de minha rebenta falando_ falou Ricoleta, bastante alto, como se fosse surda, levantando-se com dificuldade, porque tinha uma perna um pouco mais curta que a outra e segurava um lado da saia, como se essa fosse cair a qualquer momento, foi para perto de Karina_ fala tão deferente, né Bento? Mama mia que coisita ma divina, aham_ e enquanto voltava para seu lugar no sofá ao lado de Bento, que continuava lendo o jornal, sem dar importância ao comentário de sua esposa, falou baixo, mas não o suficiente, pois todos escutaram_ Cosa ma triste, chia que nem chaleira dói as ouças, aham.
_ Deu para escutar Ricoleta! _ repreendeu Júlia.
_ Disse alguma cosa? _ falou Ricoleta, colocando a mão em concha próxima ao ouvido e com a outra fazendo um sinal, como se chamasse alguém_ Io sou um pouquito surda...
_ Só quando te interessa né querida? _ disse Tereza
_ Ma olha isso, Bento_ falava Ricoleta, catucando Bento com o cotovelo_ Vá homi fala com elas como não escuto, quase nadica! Tenho dificuldade, né Bento?
_ Vou lá fora... _ falou Bento, enquanto dobrava o jornal. Levantou-se e saiu.
_ Vá sim, homi_ disse Ricoleta, como se estivesse acostumada com essa atitude do marido_ Tome um vento nas fuças, vai te fazer ma bem.
_ Olha aí, tu mais uma vez consegue fazer o pobre do homem se sentir mal_ falou Tereza, começando outra vez a fazer o tricô_ Não sei como ele te agüenta...
_Ma como asi?_ falou Ricoleta com ar inocente.
_ Como assim? Tu tinha que dar graças a Deus, que arrumou uma pessoa com paciência contigo_ continuou Tereza_ Eu, tive três maridos, sei bem o que falo_ colocou a mão direita no peito e revirou os olhos , ficando-os totalmente brancos_ Eu sim, agüentei muita coisa.
_ Tem verdade no que fala, Tetê_ respondeu prontamente Ricoleta_ Tu foi muito explorada_ e bem mais baixo falou_ Que dó dos miseráveis, quando bater biela qualquer um, vão fazer estátuas e colocar ao lado dos que pelejaram na guerra Farroupilha.
_Chega Ricoleta, tu não sabe metade do que tive que agüentar...
_ Cadê o João?_ perguntou Júlia, tentando colocar um ponto final na conversa das duas_ Já era para ter vindo com a lenha!
_ Ah, ele vai vir daqui a pouquinho, Júlia_ falou Exalta_ João ia matar uma vaca antes de vir trazer a lenha.
_ Outra? _ perguntou horrorizada Tereza_ Mas que gasto sem fim, não já matou uma para esse casamento? João parece banzo da cabeça.
_ Não é para o casamento criatura, é para vender_ respondeu.
_ Ah, aí sim. Porque só eu sei o gasto que ele tem com esses bichos. Daí ficar matando bicho de graça para os outros comer...
_Perái, maninha, de graça não!_ respondeu Júlia, cuspindo os alfinetes_Paguei ao João, dei dinheiro a ele pela vaca e pelas ovelhas e galinhas_ Jamais aceitaria algo assim, sei o quanto ele se arrebenta de trabalhar naquela chácara!
_ Ainda bem que sabe Júlia_ respondeu Tereza, largando o tricô de vez_ Mas não falei por mal, é que tu sabes que ele mora comigo, daí quem acaba segurando as faltas lá sou eu, tenho que economizar, e quando ele se viu sozinho com um punhado de roupa suja, eu, somente eu o acolhi, aquela mulher largou dele...
_ Te cala, Tereza_ falou Idília interrompendo_ Mania que tu tem, todos aqui sabem que João paga aluguel a tu ! Te dá leite, carne e verduras que planta.
_ Me dá de vez em quando, muitas das vezes eu pago!
_ Que mozito és tu, Tetê, tão caridosa! Aham_ falou Ricoleta alto_ Um docito de criatura! _ e mais baixo_ Porca miséria de pão dura, atravessa o rio Guaíba, com dois saquinhos de sonrisal e não faz uma bolhinha.
_Olhem aqui_ falou alto Júlia, na tentativa de calar de vez a conversa, virando Karina de frente para elas, com um sorriso_ Não está linda?
O vestido
Ouviram-se exclamações e suspiros de todos. Realmente o vestido de Karina estava lindo, era todo branco, com umas florzinhas de crochê que cobria toda a saia. Tereza que havia feito, claro, com linha que Júlia havia comprado e um dinheirinho que deu, porque quando Júlia foi buscar na casa dela, Tereza reclamou que estava precisando de algumas coisas que faltava no rancho e que não tinha, porque estava longe do pagamento.Neste momento, a porta que havia sido apenas encostada por Bento ao sair, se escancarou, batendo na parede. Passando por ela, Regina atravessou todo cômodo e se aproximou de Júlia. Sem olhar e nem cumprimentar aos outros falou alto:
_ Ô mãe, posso ir no campinho com Silvana?
_ Não vai falar com as pessoas?_ perguntou Júlia, ficando ofendida com a atitude da filha.
_Ah, sim... Oi_ falou Regina, contrariada, fazendo um gesto com a mão, sem se virar totalmente_ E aí, posso?
_ Mas tu tem que ajudar nos enfeites do quintal, acho melhor deixar para outro dia, minha filha.
_ Quem disse que quero ajudar nos enfeites? _ falou Regina de forma esganiçada_ Aquele bobão de calça imunda só sabe dar ordens! E a tola da mulher dele só sabe balançar a cabeça, como se tudo que ele dissesse tem sentindo ou razão. Eu...
_Gina, aqui não é momento para discutirmos isso_ disse Júlia calmamente, cortando a explosão de Regina. Ela sabia que aquela conversa duraria horas, sabia do gênio da filha.
_ Volte para lá e continue ajudando.
_ Não vou! Quero ir no campinho! _ respondeu bruscamente Regina.
_ Então não ajude, mas também não vai sair daqui da casa_ falou Júlia de modo autoritário_ Agora saia daqui!
_ Droga!_ explodiu Regina, saindo e batendo a porta ruidosamente. Sabia até onde poderia discutir com sua mãe.
Regina passou pelo corredor sem olhar para os quadros espalhados pela parede do seu lado direito, onde se via quadro de flores de várias espécies. Um móvel encostado abaixo dos quadros continha vários portas retratos. Nem no tapete feito à mão, com detalhes florais, que pisoteava raivosamente. Saiu pela porta grande da frente e na varanda, que circundava toda a extensão da casa, sentada em um banco uma garota alta e magérrima, com aparelhos nos dentes, o cabelo cortado bem curto, deixava a mostra um par de orelhas orneadas de brincos. O vestido era longo e preto como a cor de seu esmalte. Claudia levantou-se.
_Então?_ perguntou com os braços abertos um pouco acima de seu quadril.
_Nada feito! _ respondeu Regina, atirando-se no banco, seguida pela amiga.
_Ai, pior que tô doida para fumar!_ falou Claudia, pegando no chão ao lado do banco, uma bolsinha de alças grandes.
_Eu também_ disse Regina, lançando um olhar para a bolsinha de Claudia_ trouxe?
_ Claro que sim, guria_ respondeu Claudia dando um sorriso e abrindo a bolsinha e mostrando o conteúdo para Regina_ Roubei do meu pai.
_Maravilha!!_ exclamou Regina tentando pegar a bolsinha da mão de Claudia.
_ Tá viajando, Gi?_ assustou-se Claudia, evitando as mãos de Regina_ vamos para outro lugar...
_ Olha quem vem_ interrompeu Regina, com um sorriso debochado.
Um rapaz vinha na direção delas, havia recolhido uns enfeites de papel e tentava a todo custo mantê-los dentro de uma sacola, sem muita sorte, porque durante o caminho, alguns ficavam no chão, ele tornava a pegar e colocar na sacola apertando-os. Estava com os pés empoeirados, a calça muito apertada, não permitia que se fechasse todo o zíper, uma alça de sua blusa ficava caída. A pele tinha umas manchas escuras e seus dentes tinham a aparência de que não eram escovados com freqüência, seu cabelo louro no passado, tinha uma cor estranha como se ficasse exposto ao sol durante muito tempo sem proteção. Andava de um jeito afeminado. Aproximou-se dos degraus da varanda e falou enquanto subia:
_ Olá gurias! O que estão fazendo aqui?_ olhou para a mão que Claudia havia colocado atrás das costas_ Estão escondendo o que?
_ A gente ia ao campinho, mas... _ começou Claudia, sendo interrompida por um aperto na coxa que Regina lhe deu.
_Isso não interessa ao Nicos_ olhou firme e debochadamente para Nicolas_ Único assunto importante para ele é se vai ter homens na festa.
_ Como tu é má, guria_ disse Nicos ressentido_ Nem parece filha da Júlia.
_ Pelo menos eu sei quem é minha mãe_ respondeu Regina.
_ Isso não foi legal, Regina_ disse Nicolas quase chorando_ Nunca fiz nada pra ti...
_Ah, cala a boca!_ falou Regina raivosamente_ Fofoqueiro_ abanou a mão_ Anda, vai lá junto com a gangue das rapinas.
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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Esse blog tem promoção de verdade!!!
Wander Veroni
Jornalista pós-graduado em Rádio e TV, pelo Uni-BH. Atua como repórter, blogueiro, redator, produtor de conteúdo para web e assessor de imprensa.
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